segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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Sempre me deixaram um nó no peito, as janelas, quando pequena me levavam em passeios pela cidade.
Passeios de domingo em ruas cheias de janelas que escondiam gente. 
Imaginava casas povoadas de tristeza ou solidão, mesmo sem saber bem o que era ser triste ou só. 
E tinha pena.
Via homens a ler, em velhos sofás, mulheres com ar de enfado e de costura no colo, crianças a brincar em silêncio sobre tapetes com muitas cores.
Quando ao fim da tarde voltava a casa eram ainda mais tristes as janelas com luzes pálidas coadas pelas cortinas. 
Imaginava que lá dentro se ouvia uma musica muito lenta que fazia ainda mais tristes as pessoas como se não soubessem o que fazer à noite que enchia de sombras as salas onde ninguém se movera.
Aconchegava-me mais à mão quente que me segurava e queria chegar depressa a casa para fugir da tristeza.
Porque era assim não sei. 
Sei da alegria, claridade e afecto que me rodeava. 
Sei da musica alegre, do cantar de manhã à noite, das brincadeiras ao fim da tarde, dos beijos furtivos que se trocavam no sofá grande da sala ao som da telefonia e que fingia não ver, porque as meninas não podiam saber do amor dos pais.
Hoje ainda as janelas me parecem tristes. 
Ainda as cortinas me parece esconderem sombras de gente triste e só.
Ainda quero voltar para casa depressa quando a noite cai.
Mas aprendi a não olhar as janelas e a gostar de portas.
Portas que deixam sair os fantasmas magoados que vivem dentro das janelas com cortinas bordadas à mão.
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Fotos Ana Oliveira