Toda a tarde a cigarra chamou.
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As vozes amornadas pela sombra ecoavam num muro invisivel de ausência.
Estava como quem já partiu, os sentidos virados para dentro.
O corpo amparado na ombreira da porta, entre os dedos um cigarro a arder, os olhos a perderem-se no azul, no verde, no branco intenso e solar.
Um rectângulo de céu, um quadrado de jardim, um circulo de luz incandescente.
Um passaro feliz, um gato preguiçoso, a brisa a dançar na ramaria.
Imagens a reinventar-se na memória das palavras das histórias.
Saber de campos de grãos a amadurar. Ouvir de horas mortas entre paredes de pedra fresca.
E a água das fontes, os corpos abrasados, a terra a pedir chuva...
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Soaram risos, cheirava a café, voltei para dentro.
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Não sei se era a alma do verão se era a minha que toda a tarde a cigarra cantou.
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Foto Ana Oliveira
2 comentários:
Que bom que era ouvir a cigarra todo o ano
Friend
Que bem te entendo!
Sem chuva, sem vento, sem frio!
Beijos
Ana
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