sábado, 1 de janeiro de 2011

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Curvo-me para que me oiças ou para te ouvir melhor.
Se não me curvar vou fingir que não te ouvi. 
Se, de corpo direito, olhar o horizonte, sei que vou ignorar que estás aqui. 
Para além de ti e das tuas palavras amargas há uma estrada sem fim que me repete os passos, os erros e os acertos. 
Para além de ti o infinito é uma nuvem que me cobre do sol inclemente, me molha o corpo seco, me diz dos arcos-íris e dos colibris que me bebem o sangue  e o mel entre os lábios.
Curvo-me para que a tua mão de látego aceso me cobre cada gesto que vestes de seda. Para que os teus olhos de farpas coloridas me veja a nuca submissa. Para que as tuas palavras me escorram pelo corpo e deixem em meu lugar o charco do meu riso.
E se me estendes a mão é a minha mão fria que te devolve o gesto.
Curvo-me e ainda assim não me ouves nem sabes que te ouvi.

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Foto Google