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"É aí, no mais íntimo, que nos
apagamos, mas é também aí que o silêncio se incendeia, iluminando a
realidade e unindo-nos a ela. É o nascimento de nós mesmos e o
nascimento do mundo. Na suprema suavidade desta fusão, somos livres e
unos, idênticos e puros. É aí que habita o silêncio primordial e é a
partir daí que principia a metamorfose essencial da linguagem e do ser. A
pulsação viva da palavra é o fruto desta permeabilidade à silenciosa
matriz do corpo. O vocábulo novo, retemperado pela nascente, substituirá
o rigor rígido do conceito pela fluidez e fugacidade de uma respiração.
Na sua intrínseca transgressão a palavra conduzir-nos-á à nudez viva do
silêncio, à transparência do ilimitado.
Mais Silêncio Mais Sombra
António Ramos Rosa
In JL — Jornal de Letras, Artes e Ideias, Lisboa, 14 Ago. 1990; reprod. in Prosas seguidas de Diálogos, Faro, 2011.
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