quinta-feira, 2 de julho de 2009

PASARGADA





Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira in "Bandeira a Vida Inteira"




Foto Google

7 comentários:

Paula Raposo disse...

Eu simplesmente adoro este poema! Beijos.

Ana Oliveira disse...

Paula

A mim lembra a angústia do fim da adolescência...o grito esporádico da adultez ainda inconsistente...
hoje leio-o com um sorriso de quem já não quer fugir...mas que não se importa de ser "amiga do rei".

Beijos

Ana

Pelos caminhos da vida. disse...

Tem selinho lá no blog pra vc.

beijooo

simplesmenteeu disse...

"E quando estiver mais triste
Mais triste de não ter jeito"

abafo os sonhos que tive
os amores que então cantei
deixo-me abraçar ao acaso
e nesse vinho gelado que sabe toldar os sentidos
voo de novo até aí
e finjo com quem não estou...


Beijo grande

Ana Oliveira disse...

Pelos Caminhos da Vida

Obrigada. Lá irei buscá-lo.

Um beijo

Ana

Ana Oliveira disse...

Simplesmenteeu

Como sempre a tua prosa rimada e ritmada completa da melhor forma o poeta.
O vinho que enebria e abre o voo ao sonho... todo o poeta é um fingidor, por isso voa e finge não estar onde está.

Uma boa noite para ti.

Beijos

Ana

mariabesuga disse...

eu adoro Manuel Bandeira!...
beijos