Linho e Lavanda
Sabes, hoje quis escrever-te uma carta de amor, em que as
palavras se vestissem da cor de todas as palavras de amor,
que soassem como todas as palavras de amor, que fossem
apenas banais como todas as palavras de amor podem ser.
Escolhi cuidadosamente o papel, aquele de que tanto
gostas, ligeiramente texturado e de aspecto envelhecido.
Procurei a caneta, a roxa, gosto de escrever a
roxo,dramático e sentimental, dizes.
Imagino que sorris, sorris sempre da importância que dou
aos pormenores.
Sentei-me junto à janela, o jardim tão verde e húmido, o
ar tão lavado e fresco, que as palavras haveriam de brotar,
banais, como uma flor na brisa da manhã.
Acendi um cigarro, sim, sei que detestas, abri a caneta,
pousei a cabeça na mão e escrevi o teu nome.
Olhei demoradamente o papel , como um ramo de lavanda
sobre um lençol de linho, tão banal e belo e fresco como as
palavras de amor que quis escrever-te, hoje.
Um pássaro assobiou lá fora, o cigarro consumia-se entre os
dedos, fechei a caneta e abri a janela.
Precisava respirar.
Uma única frase queria seguir o teu nome:
" O gesto largo e obsceno com que abres a minha vida à tua,
sufoca-me"
Sabes, hoje quis escrever-te uma carta de amor e descobri
que já não sei palavras de amor, banais.
06/03/2011
3 comentários:
Intrigantes pensamentos, esses...!
Obrigada pela visita ao meu blog, seja sempre bem vinda!
:))
Obrigada Isa, o prazer foi meu!
Voltarei
por vezes há dias assim
mas é preciso re-nascer
sempre
sempre
um beijo amigo
Enviar um comentário