segunda-feira, 27 de setembro de 2010

:
:
:

Disseram que este peso que carrego era a salvação de um ventre cheio, desejado e redentor.
Cercaram-me de fitas e laços, alimentaram-me a leite e mel, quiseram-me conformada e medida.
Por este nome me truncaram, Por este ser me limitaram. Por este estar me confundiram.
Agora olham-me e não me vêm, na estranheza de não encontrarem o que destinaram ao nome que me deram.
Sou eu, sim.
A que estava sem estar. A que voltava sem ter partido. A que sonhava imperturbável num sorriso de pedra.
Sou eu.
Não molhei as mãos no mar, não colhi rosas em jardins distantes, não fui ave em céu de prata.
Mas foram minhas todas as fontes que encontrei.
Tenho no colo as pétalas de mil flores que desfolhei.
E das penas fiz asas de pomba...e não voei.
:
Foto Ana Oliveira

10 comentários:

AC disse...

Já li duas vezes e adorei.
Volto mais tarde para comentar com maior profundidade.

Beijo :)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

gosto de ler a tua poesia, mas acho que a tua prosa poética consegue ser melhor.

beij

Fatima disse...

Fantástico

Ana Oliveira disse...

AC

Obrigada...

:)

Um beijo

Ana Oliveira disse...

Piedade

Dificilmente acho que o que escrevo seja poesia...penso...penso muito...e depois para não me perder nas palavras escrevo o que sobra... são apenas restos de pensamentos sentidos.
Quanto à prosa é também uma depuração do tanto que escreveria a explicar o que sinto...

Um beijo

Ana Oliveira disse...

Fatima

Obrigada.

"Isto dava pano para mangas"...quase uma vida.

Beijinhos

partilha de silêncios disse...

"Quiseram-me conformada e medida", mas eu construi outros sonhos.

beijinhos

AC disse...

Há muitas formas de voar. E se, vítimas de um modelo, sentimos a pressão do coarctar das asas, há sempre a possibilidade de a lucidez e a determinação se manifestarem num "eu não vou por aí". E é essa força que determina o voar.

beijo :)

uminuto disse...

refrescante a imagem
intenso o texto
beijo e boa semana

Benó disse...

Lindo poema para quem matou a sede em todas as fontes.
Mas as asas..... talverz as penas fossem muitas e impediram o vôo.
Um abraço.